Eu sou biomédico.
Tudo bem se você não sabe muito bem o que isso quer dizer, muita gente não sabe, é normal.
Um biomédico é um cientista, beleza?
Eu passei anos no meu doutorado estudando imunoglobulinas, quimiocinas, linfócitos peritoneais e rejeição de aloenxertos.
Pareceu interessante? Não muito, né? Mas o pior é que é interessantíssimo! Mas esse é um problema clássico dos cientistas: só a gente acha legal aquilo que nós estudamos.
Você até tenta explicar o seu trabalho durante o jantar com a família, mas as pessoas só fingem que entendem. E nem fingem que se interessam. Elas só estão de olho no último pedaço de pizza.
Se você trabalha ou estuda com assuntos bem específicos, já deve ter passado por isso.
Bom, azar de quem não se interessa pelos seus assuntos, né?
Era isso que eu pensava. "Azar o deles."
Até que, em 2008, me tornei professor universitário. Agora a minha função era fazer os alunos entenderem e se interessarem pelos linfócitos peritoneais. Agora eu estava sendo pago para isso.
Não era mais "azar o deles". Azar o meu!
Foi aí que eu percebi que eu tinha muito conhecimento técnico, mas pouca habilidade em fazer os outros embarcarem nas minhas propostas. Minha cabeça era um cofre e ninguém tinha a senha.
Por pura sorte, fui fazer um curso de palhaço, como curioso mesmo. Foi só um fim de semana, mas foi incrível.
Ali eu senti na pele a força de se mostrar humano diante de uma plateia, a possibilidade real que temos de nos conectarmos com as outras pessoas e a importância de não focarmos apenas no conteúdo, mas em como apresentar esse conteúdo.
Depois desse fim de semana, eu nunca mais parei de fazer cursos de palhaço. Comecei a atuar como palhaço no hospital, já faço isso há 12 anos.
E tem algo maravilhoso nessa linguagem artística: o palhaço sempre quer algo e é sempre muito difícil de conseguir esse algo.
Em outras palavras, o palhaço sempre vive uma história. Ele sempre compartilha com o público suas histórias.
Aos poucos, fui percebendo o papel fundamental das histórias para criar boas relações com as crianças nos hospitais.
Fui percebendo a riqueza das histórias nas minhas palestras que faço em empresas.
E, hoje, não tem uma aula minha sobre linfócitos peritoneais que não tenha uma história.
Por quê? Porque todo mundo ama histórias, desde sempre. A gente só precisa saber contar.
Eu aprendi a dar a senha do meu cofre para as pessoas.
É isso que eu quero te ensinar. Sem enrolação.